terça-feira, 13 de março de 2012

Intervenção Urbana vai para a sala de aula

Entre a pichação e o grafite, entre a sujeira e a arte, a violência e a devolução de espaços públicos ao povo. Os conceitos se diferem, vêm todos de ambientes e histórias diferentes, mas referem-se quase sempre a mesma ação, expressar-se em muros, com tintas, sprays e criatividade. Diferenciar o grafite da pichação em Belém é quase impossível, somos a capital nacional de pichações que também dizem coisas e expõe ideias, muito diferente do conceito de sujeira e poluição visual difundindo pelo olhar não atento, principalmente de urbanistas e do poder público.
A história da pichação em Belém remete aos anos 90, antes da briga de gangues arregimentarem os pichadores para identificar seus espaços. Depois a pichação ainda que mantendo os traços ficou atrelada a violência e ao crime organizado. Quem conta essa história é o grafiteiro de 31 anos EdPaulo Moraes Cardoso, conhecido pelos muros da cidade apenas como Ed, e que também começou como pichador e que também quase entrou para as carreira das gangues.
Hoje, já estabelecido e vivendo da sua arte, a intervenção urbana, ligada a cultura de rua e principalmente ao hip hop, iniciou mais uma turma de artistas na ideia de ocupar os espaços sem uso. A oficina de Graffite promovida pela Central Única das Favelas Pará e pela ONG Crias Futuro, dentro do projeto Crias do Futuro, é apenas uma das cinco oficinas que serão oferecidas durante todo o primeiro semestre em bairros diferentes na periferia da cidade de Belém.
A primeira aula, fez com que Ed fizesse esse retorno no tempo, de 1996, antes de sequer conhecer o que era e como militava um grafiteiro, quando a diversão era simplesmente sair marcando território na arte anônima pré-guerra de gangues, a hoje quando a casa do Grafiteiro esta montada com estrutura de escritório e programação anual para receber com arte todo e qualquer visitante também grafiteiro que queria conhecer Belém.
Ed faz parte do coletivo Cosp Tinta que já grafitou muitos muros pela cidade e que já tem fama até fora de Belém. “Acho que uma das coisas que chama a atenção para o nosso movimento é a nossa organização e principalmente o fato de hoje eu viver disso, sei que muitos colegas tem suas outras vidas, fora da arte, mas eu sou exemplo pra quem quiser ver, que se pode fazer uma carreira dentro do Graffiti e é isso que motiva essa molecada que assiste as aulas”, acredita Ed.
A oficina vai durar três meses e os alunos foram convidados a escolher espaços dentro de seus próprios bairros para realizarem a intervenção. Ed alerta que antes de pegar no spray os participantes terão ainda que percorrer um caminho muito longo entre conhecer as técnicas de desenho, cores, luz e sombra. Além de aprender a história de como surgiu e de como é utilizado o Graffiti. “Hoje, aqui, isso vai ser mais fácil. Na minha época, fazíamos muito por instinto. Aprendi correndo atrás de informação que era muito mais complicado do que hoje, os meios de divulgação de cultura de rua eram ainda mais escassos. Até sorte eu acho que dei em relação a informação”, informa.
Além das oficinas que terão resultados práticos em três meses, Ed, junto com o Coletivo Cosp Tinta, trabalha ainda nos mutirões de graffiti mensal. “Já realizamos um no Tapanã, que foi o primeiro, o segundo foi aqui na mesmo na Terra Firme e o próximo vai ser dia 31 de Março, na Guanabara”, informa.